terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A ponte azul.

Porque pela manhã, de manhãzinha, junto ao rio, há um vento frio que aquece o corpo e o olhar. O céu transforma-se no céu das manhãs todas, cobrindo a ponte de pó azul e poalha de noite adormecida.
Espero com os pés no rio. A ponte está fechada pelos braços da noite.
O largo braço apagou os seus últimos visitantes levando-lhe os pés para o rio, para que a memória do mar toque os cabelos suados, num odor a sal e corpos consumidos. Corpos dejecto. Corpos violáveis. Corpos de manhãs azuis.
Espero com os pés no rio, de algas na pele arranhada e mastigada pelo último passo da noite. Na última palavra. No último fechar de olhos. Na primeira articulação depois do silêncio. Depois.
Espero. Com os pés no rio.
Sai. Abriram a ponte. Sai.
Vou saltar... no coração da manhã azul e das cidades que construimos no deslizar das mãos...
...no coração de outra cidade e outra ponte.

Um comentário:

Anônimo disse...

Guardo amanheceres frescos nos teus olhos e nas tuas mãos.
Enalteces-me.

Até já... no outro lado do espelho.