sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

?

Em poucos dias poderei abandonar esta cidade azul e voltar à cidade azul que amo.
Em poucos dias tenho que decidir para onde lanço o corpo e o olhar.
Em poucos dias.
vou, porque os sonhos crescem onde sentir o odor de mim.
fico, porque tenho mãos para preencher com luas azuis e gordas.

Não sei.... por poucos dias.

Não sei.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A ponte azul.

Porque pela manhã, de manhãzinha, junto ao rio, há um vento frio que aquece o corpo e o olhar. O céu transforma-se no céu das manhãs todas, cobrindo a ponte de pó azul e poalha de noite adormecida.
Espero com os pés no rio. A ponte está fechada pelos braços da noite.
O largo braço apagou os seus últimos visitantes levando-lhe os pés para o rio, para que a memória do mar toque os cabelos suados, num odor a sal e corpos consumidos. Corpos dejecto. Corpos violáveis. Corpos de manhãs azuis.
Espero com os pés no rio, de algas na pele arranhada e mastigada pelo último passo da noite. Na última palavra. No último fechar de olhos. Na primeira articulação depois do silêncio. Depois.
Espero. Com os pés no rio.
Sai. Abriram a ponte. Sai.
Vou saltar... no coração da manhã azul e das cidades que construimos no deslizar das mãos...
...no coração de outra cidade e outra ponte.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Oríon... o criador de almofadinhas.


Vinho nos lábios.

Sem mesas. Sem Lura. Sem mãos que voam.

Cor nos lábios e na pele. Almofadas nas mãos de um menino de corpo azul, como o tigre solto nas ruas num dia sem manhã.

Grasnam, soltam gritos num verde com brilho e no sol que some atrás do rio aos pés, num querer acreditar em tardes de sol e noites com lua que toca nos cabelos quando estou por trás de ti. O odor da pele solta-se nos pedaços achados na rua, números, imagens, sorrisos, olhares... quando a lua tocava os cabelos, o calor chegava ao meu dedo.. aquele por onde falavas debaixo das folhas sem brilho por baixo... porque algo lhes faltava, dentro da casa das pessoas, na intimidade onde desenhaste um dia a café que te sobrou dos lábios... sob um Oríon sem cabeça, onde pandas dormiam a sono alto.

Bebemos todas as tardes, como todos os dias e todas as luas... onde queriamos acreditar em histórias de amor e cartas vindas de oriente... através de memórias difusas e fotografias amarelecidas pelos passos de quem passava, onde corações gordos brilhavam.

Porque as histórias estão na pele e no olhar de quem as escreve... e de quem as lê, mesmo que apenas um segundo seja o tempo da fotografia com o flash da cor do teu olhar.... castanho. (como um pato com sapatos)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

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...porque já nada está...

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

ode

...por respirar o meu silêncio.
...por desejar os dias em que eu sorrio.
...por abraçar-me.
...por sussurrar depois do meu sono.
...por pintar o sol nas minhas costas.
...por partilhar o vinho nos lábios.

ode a quem amei. ode a quem amou. ode a quem nunca o fez. ode a ti, porque sei que o nosso tempo poderá estar próximo, ou não. ode a ti, porque poderemos viver dias num sono sem fim, ou não.

ode a mim, ode aos outros.

eu e os outros. eu e tu. eu e eles. tu e eles. eu e tu.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

segunda à noite quase terça


A minha memória não é minha. A minha memória sou eu distorcido pelo tempo e misturado comigo próprio, com os meus medos, com os meus gritos, com a minha culpa, com o meu arrependimento.

A minha memória não sabe o que é memória e conta histórias que eu as criei, as distorci e as esqueci, para lembrar-me de novo delas, com a mesma culpa e o mesmo medo, onde a memória já é memória de outro. Tal como as histórias podem ser histórias de alguém mais.


Sabia que há minha volta tudo era diferente e há minha volta tudo é diferente. As pessoas falavam noutras línguas, sorriam em outras línguas, respiravam em outras línguas e, em outras línguas, tinham tardes de maio e árvores junto à praia. Tinham árvores em outras línguas e praia em outras línguas. Tinham calor da tarde em outras línguas e olhares em outras línguas.


Tu não estavas. Eu não estava. Tinhamos outras línguas e tu outras praias com outras árvores.


Sorrias. Porque o mundo era tão simples. Era tão simples. Era tão simples. E eu não vi o teu sorriso porque sorrias noutras línguas. Beijavas outras línguas. Sussurravas outras línguas. E eu apenas deixei que o fim de tarde chegasse, o escurecer do azul em si mesmo para que à noite, no escuro que não escurece, procurasse de novo ficar à distância de um beijo de ti, e então, deixar que o silêncio chegasse aos nossos lábios porque o silêncio chegava e estaria carregado de palavras, praias, árvores, pessoas e um azul escuro quase negro.


Tu não estavas. Eu não estava. Tinhamos outras línguas e tu outras praias com outras árvores.

silêncio

Calamo-nos um no outro.
Porque o meu olhar é da dimensão de tudo o que vejo e tudo o que vejo são manhãs de sol, manhãs de sol e manhãs de sol, com a dimensão das noites de olhos fechados.
Calamo-nos.
Silêncio teu. Silêncio imperceptível. Silêncio agarrado ao corpo que ensinaste a fundir-se nas coisas para que nunca percebam que aqui estou... para que eu ocupe muito pouco lugar no mundo... para o mutismo que chega, alastra para o exterior do corpo e para o interior da cabeça, no interior do crânio, no interior do sangue, cujo correr aprendi a silenciar. Frases. Palavras soltas e memórias antigas que desalojo para bem longe da ponta da tua língua.
Sabes? O silêncio faz-nos parecer mais sábios do que aquilo que realmente somos.
Preparo-me para me preparar para estar preparado... há um turpor em redor da minha pele.